10 meses

Naquele instante, deitado sobre o colchão estendido no chão da sala, ele sabia que acabara de ouvir o sim mais importante da sua vida até então.

Microconto #64

Tornou-se proctologista só para garantir que ninguém jamais mexesse no seu.

Microconto #63

Nos pés, os sapatos permaneciam brancos como a esperança de um dia andar de novo.

Microconto #62

Definitivamente ela não era homem. Mas, no trabalho, não fazia outra coisa além de coçar o saco.

Microconto #61

a baixa estima impedia-lhe de gritar, de aparecer e até mesmo de escrever em caixa alta.

Microconto #60

O beijo foi de cinema. Pena que o cenário era de um ônibus lotado em dia de chuva.

Microconto #59

Suicidou-se para mostrar o quanto estava insatisfeito com aquela vida de merda. Mas para sua eterna infelicidade, o filho da puta do perito declarou assassinato.

Microconto #58

“Quando quiser eu paro.” Essa era a frase escrita na lápide de mais uma vítima do cigarro.

Microconto #57

A inocência da pequena Maise se desfez junto com os laços afetivos que uniam seus pais.

Microconto #56

O filho sabia que o sermão do pai era pura hipocrisia, mesmo não conhecendo muito bem o significado dessa palavra.

Microconto #55

A bala perfurou apenas um coração, mas deixou cicatrizes em vários outros.

Microconto #54

No farol, a esperança de uma vida digna vai embora sempre que a luz verde se acende.

Microconto #53

Alfredo estava orgulhoso: sua mulher tinha um homem belo, de olhos claros e músculos avantajados, para satisfazê-la na cama. Uma pena que não era ele.

Diálogos - Lutador

- Papai, eu nunca mais vou comer.
- Que bobagem minha filha, você precisa se alimentar pra ficar forte como o papai.
- Mas se você tem que se machucar para me dar comida, eu prefiro morrer de fome.

Microconto #52

Às vezes o Mal de Parkinson fazia com que se sentisse divino, porque, de certa maneira, ele também escrevia certo por linhas tortas.

Microconto #51

Nem a água ardente descia rasgando como as palavras que ele teve que engolir.

Delírios #15

Para quem ainda não chegou aos 30, a nostalgia deveria ser pecado capital.

Microconto #50

Fechou os olhos, imaginando que aquele era o momento da sua vida que o faria aceitar o eterno retorno.

Microconto #49

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” foi a última frase da noite. Fechou o livro, olhou para a esposa ao seu lado, resmungou algo inaudível e dormiu.

Maldita raposa.

Microconto #48

Escrevo para libertar minha angústia. Escrevo para libertar você de mim.