Brigadeiro

Ninguém entendia como a Nanda continuava namorando o Augustinho. Logo a Nanda, uma mulher divertida, inteligente e de sobrancelhas tão perfeitas. Ai, aquelas sobrancelhas. Perfeitas para cinema mudo. Finas e delineadas, valorizavam cada expressão da bela.

E logo o Augustinho. Sujeito magro, de bigode farto – quase tão cinematográfico quanto a sobrancelha da Nanda – que, aliás, lhe enfeitava a cara desde a faculdade, quando chegou a ser apelidado de Zapata pelos amigos da época. E ainda por cima era do tipo canastrão, malandro da Lapa. Sempre com jeitinho, com “calma que eu resolvo” e piscadinhas para toda mulata de calça jeans. E quando era jeans branco ele até assobiava.

O fato é que mesmo sabendo e admitindo os defeitos do Augustinho, a Nanda não largava o malandro de jeito nenhum. Contrariando os pitacos dos amigos:
- Larga esse homem, Nanda. Ele não serve pra você. Você é uma mulher de futuro. E o Augustinho...o Augustinho é o Augustinho, oras. Dizia a Marininha, sua melhor Amiga.

Um dia, sua irmã mais velha, Sandra, cansada da situação e do falatório dos amigos resolveu tirar a história a limpo.
- O Augustinho, Nanda. Quando vai dar o pé na bunda dele?
- Pé na bunda, por quê?
- Como assim por quê!? Ele não vale nada. Você conseguiria coisa muito melhor que ele por aí, qualquer uma conseguiria.
- Não é bem assim, Sandra.
- Então fala a verdade, o que é que ele tem que ninguém sabe? Ele deve ser um terror na cama, só pode.
- Quase isso. Na cozinha.
- O quê? Como assim!?
- É o brigadeiro, Sandra. O brigadeiro do Augustinho.
- Que brigadeiro, mulher!?
- Todos os sábados, ele faz uma receita especial de brigadeiro que simplesmente me deixa maluca. Sempre fui alucinada por doces, e o brigadeiro do Augustinho, ai meu Deus, só de pensar já fico toda molhada.
- Ah, não. Essa foi demais, pra mim chega.
- Espera! É serio. Não sei o que ele põe no brigadeiro, nunca deixou eu chegar na cozinha, mas sempre na segunda ou terceira colherada eu tenho orgasmos múltiplos, assim, do nada. Orgasmos que eu nunca tive com nenhum homem.
- Nem com o Paulão!?
- Nem com o Paulão.

As duas ficaram pensativas por alguns segundos. Nanda lembrando o gosto do brigadeiro, e Sandra imaginando o Paulão.

O silêncio cessou quando Nanda continuou:
- Agora se coloque na minha situação. Não preciso ficar com o namorado no pé a semana toda. Ele é divertido, ninguém pode negar, e ainda me dá orgasmos múltiplos todo final de semana. Por que eu mudaria de vida?
- É, pensando bem, o Augustinho é um partidão.
- Sabia que você ia me entender, irmã.
- Mas deixa eu te perguntar...
- Diga.
- Sobrou um pouco do brigadeiro de ontem?